A disposição da plantação de café pode aumentar a produtividade e a sustentabilidade?

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Gudryan J. Baronio discute sobre o recente estudo, conduzido em colaboração, que enfatiza o papel fundamental dos polinizadores na produção de café e seu impacto nas características dos frutos e sementes. As conclusões do estudo apoiam a otimização dos cafezais através da preservação da vegetação nativa para aumentar a produção de café e conservar a biodiversidade.

Nosso recente artigo publicado no Journal of Applied Ecology traz uma exploração da intrincada interação entre as paisagens agrícolas e a dinâmica ecológica, oferecendo uma lente científica para a relação multifacetada entre o desenho dos cafezais e a conservação da biodiversidade. Nesse estudo, revelamos algumas relações entre o projeto do campo e sua influência sobre a biodiversidade e os serviços de polinização, que são acentuados pelo papel fundamental desempenhado pelas áreas de borda do campo. Nesta postagem, exploramos alguns pontos práticos para o gerenciamento de recursos biológicos, e claro, recomendamos a leitura aos cafeicultores que desejam obter melhores resultados, bem como para pessoas interessadas pela interação entre a vegetação nativa e as paisagens agrícolas.

O foco de nosso estudo não foi apenas no detalhamento científico, mas nas aplicações no mundo real para o gerenciamento sustentável de recursos. As evidências empíricas indicam um aumento substancial nas taxas de visitação de abelhas às flores de café nas bordas do campo em comparação com o interior da plantação de café, enfatizando a importância de preservar e enriquecer essas áreas. Após um trabalho de campo considerável, descobrimos que a borda das plantações de café são centros de atividade para polinizadores, especialmente abelhas solitárias, que são os principais polinizadores do café (veja também Machado et al., 2020).

O trabalho de campo incluiu experimentos envolvendo a floração do café e as atividades das abelhas nidificantes. Essas imagens são de inflorescências de café durante o experimento de polinização para entender como os grãos de café poderiam ser diferentes quando provenientes de polinização própria e natural © Ana Carolina Pereira Machado

O que nós observamos?

Descobrimos que a taxa de visitação de abelhas às flores de café na borda do cafezal foi mais de sete vezes maior do que no interior da plantação. Isso resultou num aumento substancial na frutificação do café e na qualidade dos grãos de café. No entanto, nosso estudo foi além da ecologia da polinização do café e analisou como isso afeta as finanças dos cafeicultores.

As abelhas solitárias nativas têm um papel fundamental na influência sobre o número, a massa e a densidade dos frutos e na qualidade geral do café. Não se trata apenas de um benefício quantitativo, mas de uma melhora qualitativa, com os frutos naturalmente polinizados exibindo atributos favoráveis à produção de café de qualidade. A polinização por abelhas resulta não apenas em mais frutos, mas também em grãos de café de melhor qualidade!

Observamos sementes mais redondas e mais densas resultantes da polinização natural por abelhas, influenciando os processos de torrefação e pós-colheita e contribuindo, em última análise, para uma melhor qualidade do café. Comercialmente, são notáveis as práticas de gerenciamento quem focam em apoiar a diversidade e a abundância de abelhas nativas. Um cafezal bem planejado pode melhorar os serviços de polinização, aumentando potencialmente a renda de um agricultor em mais de US$ 1.700 por hectare! Esse incentivo econômico ressalta a viabilidade e a relevância de práticas sustentáveis que se harmonizam com a natureza. Além disso, imagine o ganho coletivo se plantações inteiras adotarem estratégias semelhantes!

Os cafezais têm eventos de floração maciça e podem atrair muitas abelhas. Portanto, se as paisagens circundantes tiverem comunidades ricas de visitantes florais com acesso às plantações de café, a frutificação pode ser mais lucrativa! © Ana Carolina Pereira Machado

Nós não paramos na borda do cafezal!

Usando ninhos artificiais, exploramos como as abelhas usam o pólen do café e das plantas nativas da vegetação adjacente. Os tipos de pólen encontrados nos ninhos são evidências de uma intrincada dinâmica ecológica, com a proximidade do cafezal influenciando o comportamento de forrageamento das abelhas. A mudança temporal no comportamento das abelhas na busca de alimento, especialmente a preferência pelo pólen do café durante a época de floração, reflete a adaptabilidade das abelhas solitárias à dinâmica dos cafezais. Destaca-se a necessidade de uma abordagem equilibrada para o planejamento da disposição do cafezal integrando-o à vegetação nativa, e fornecendo não apenas alimento às abelhas, mas também oportunidades de nidificação na paisagem.

Aumentar a disponibilidade de locais de nidificação é uma maneira de tornar as plantações de café mais favoráveis aos polinizadores. Aqui vemos alguns tipos de casas de abelhas para abelhas solitárias nativas que foram usadas no trabalho de campo © Ana Carolina Pereira Machado

Aqui está a verdadeira joia – um cafezal planejado para ser bem equilibrado, que integre a vegetação nativa e o gerenciamento de suas bordas pode ser uma estratégia vantajosa para todos. Isso não apenas dá suporte à conservação da biodiversidade, mas também aprimora os serviços de polinização, abrindo caminho para a produção sustentável de café. Nossa pesquisa sugere uma mudança de paradigma nas práticas agrícolas convencionais, apoiando a intensificação ecológica da agricultura e alinhando-a com as necessidades dos polinizadores. Não se trata apenas de um resultado científico, mas de um bom caminho para a agricultura sustentável, no qual a biodiversidade, os serviços de polinização e a produtividade agrícola convergem para apoiar o café: uma cultura polinizada por insetos valiosa e amplamente consumida, cuja produção global está aumentando década após década (Ollerton 2021).

Recomendações para gerenciamento

  • Otimizar as bordas – Incentivamos os agricultores a melhorarem as áreas de borda com diversos recursos florais para atrair e apoiar os polinizadores e, em última análise, aumentar a produção de café.
  • Preservar a vegetação nativa – Enfatizamos a importância de preservar a vegetação nativa em torno das plantações de café como locais cruciais de nidificação e forrageamento para os polinizadores.
  • Melhorar as oportunidades de nidificação – Sugerimos a implementação de estratégias para oferecer oportunidades de nidificação para abelhas solitárias dentro ou perto das plantações de café para melhorar os serviços de polinização.
  • Destacar os benefícios econômicos – Sugerimos orientar os agricultores sobre os benefícios econômicos da polinização aprimorada, mostrando-lhes o aumento potencial da renda por hectare.
  • Considerar as condições micro ambientais – Incentivamos os agricultores a otimizarem as condições micro ambientais, especialmente nas bordas, para influenciar positivamente o desenvolvimento e a produtividade dos frutos.

Leia o artigo completo “Otimizando da produção de café: Aumento da visitação floral e da qualidade dos grãos nas bordas das plantações com polinizadores e vegetação nativos” no Journal of Applied Ecology

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